comecei por engolir a tua fotografia. depois arranquei os olhos e engoli-os para te ver. depois queria abraçar-te e engoli todo o meu corpo. mas fiquei ainda mais só dentro de mim.
quero as tuas mãos quentes. aquecem a minha pele fria. de serpente. e limpam-me o corpo desta saudade cor-de-sal. quero arder todos os dias no desejo de encontrar-te. à noite. sem as tuas mãos sou como uma árvore que amou o fogo. sem antes beber um copo de água.
se as minhas mãos fossem asas esvoaçando entre nuvens cinzentas... mas dentro do meu peito batem as horas cansadas e os meus olhos sentam-se à beira do rio e aguardam...
apunhalei uma palavra e caí dentro do buraco que lhe provoquei. era uma palavra grande, onde cabiam muitas outras. e eu, olhando para cima, achei que nunca iria conseguir sair dali.
pintei as minhas mãos de verde e ergui-as no céu. como duas árvores. nelas poisaram duas aves que se amaram entre os ramos. as minhas mãos cresceram cada vez mais...